PRÁTICAS DISCURSIVAS

Lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem. Lutar pela diferença sempre que a igualdade nos descaracterize.

Boa Ventura de Souza Santos

As práticas discursivas revelam, através do comportamento humano e dos modos de fazer, quais são os imaginários que guiam tais ações. Em se tratando de imaginários sobre os surdos, ou seja, o que se pensa que eles são, e também das atitudes em relação a eles, temos, pelo menos, duas visões que se contrapõem na sociedade:

Perspectiva clínico-patológica

Essa visão toma a surdez como deficiência, e por ser assim, presume-se que o que é deficiente deve ser "consertado" para que se torne eficiente. É uma perspectiva muito comum na área de medicina, especialmente, para a fonoaudiologia que, com exceção dos fonoaudiólogos que defendem uma fonoaudiologia bilíngue, incentivam o uso de aparelhos auditivos e o implante coclear.

Muitos ouvintes ainda pensam olham para os surdos dessa forma, como deficientes. Porém, essa visão parte de um ponto de vista de alguém que possui a audição para alguém que não possui a audição, ou seja, por enxergar no outro essa "falta", entende-se que esse outro precisa tê-la "de volta".

Perspectiva de sujeito sócio-histórico

Essa visão compreende o surdo enquanto um sujeito que é constituído sócio-historicamente. Isso significa que, por essa perspectiva, o surdo é enxergado como um sujeito cuja identidade, língua e cultura se diferem dos demais porque é surdo. Ou seja, existe o reconhecimento e a aceitação de uma outra língua, outra cultura e outra identidade.

Sendo compreendidos dessa forma, os surdos conquistam seu lugar na sociedade, podendo atuar nela e ter uma qualidade de vida que não fere sua principal característica: a surdez. Aqui não se tenta "consertar" nada, pelo contrário, é a partir daquilo que garante a identidade ao surdo, ou seja, a surdez, que as coisas são feitas. Daí surgem as escolas bilíngues, acessibilidade em Libras, a profissão de tradutor/intérprete de língua de sinais, entre outros exemplos.

Entenda mais sobre a história dos surdos abaixo: