História, imaginário e legitimidade

Um panorama geral da cronologia da educação de surdos no Brasil

Em 1857, a convite de Dom Pedro II, o professor surdo francês, Enerst Huet, veio ao Brasil para fundar uma escola para surdos. No dia 26 de setembro do mesmo ano, aconteceu a fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos, o atual INES. Por isso, esse dia entrou para o calendário de datas comemorativas como o Dia Nacional do Surdo.

No entanto, algumas décadas antes, em 1800, na Itália, ocorreu o Congresso Mundial de Professores de Alunos Surdos, mais conhecido como Congresso de Milão, quando foi discutido o futuro da educação de surdos, tendo como principal objetivo decidir qual método seria mais eficiente: o gestualismo ou o oralismo. O método oralista prevaleu, e a língua de sinais foi proibida em toda a Europa. No Brasil, isso só foi acontecer a partir do ano de 1881.

Passados exatos cento e seis anos, em 1987, foi fundada no Brasil a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS), cujas dentre as entidades fundadoras, encontram-se várias APADAs (Associação de Pais e Amigos do Deficiente Auditivo) de estados diferentes, além de alguns institutos e escolas. Dentre os trabalhos que a FENEIS realiza, estão: a divulgação da língua brasileira de sinais (Libras), a defesa dos direitos dos surdos e de políticas em educação, cultura, saúde, entre outros aspectos, sempre atuando a favor da comunidade surda brasileira, além dos programas sociais que eles desenvolvem, inclusive, para surdocegos.

Atualmente, no Brasil, o cenário para a educação de surdos tem melhorado pouco a pouco. No estado de São Paulo, existem cerca de dez escolas de surdos cuja proposta de ensino é a perspectiva da educação bilíngue. Isso significa que as crianças surdas terão a Libras como primeira língua (aquela que primeiro se aprende) e o português (escrito) como segunda língua (aquela que se aprende depois de já se ter uma língua).

Conheça algumas escolas de surdos no Brasil:


(Re)construindo imaginários: legitimidade à vista

Apesar do reconhecimento e da aceitação da Libras ser maior hoje em dia, a história dos surdos até aqui foi e ainda é um processo de bastante luta. Quando pensamos em reconhecimento e aceitação, é porque existe algo que ainda precisa ser estudado a fundo (reconhecer) para que haja uma recepção positiva (aceitar).

Se voltarmos no tempo, veremos que a história dos surdos vem com bastante sofrimento. Na Grécia, por exemplo, os surdos eram considerados incapazes, e Aristóteles, filósofo consagrado atualmente, afirmava que eles não podiam se comunicar uma vez que não tinham acesso à linguagem. Em Roma, não tinham o direito à cidadania. Em Esparta, os surdos recém-nascidos eram atirados do alto de rochedos. Na China, as crianças surdas eram lançadas ao mar. Veja que são inúmeros os exemplos de opressão sofrida pelos surdos.

Mas tudo isso e o que acontece ainda hoje se dá por um ponto-chave fundamental: a língua (de sinais). As ações opressoras aos surdos estão sempre ligadas a uma perspectiva distorcida de quem é o surdo. Isso porque as línguas de sinais, embora não sejam recém surgidas, ainda é uma novidade porque causam estranhamento devido a sua modalidade viso espacial.

Mas esse estranhamento existe porque, até então, o que se conhecia era somente a língua oral-auditiva e sua escrita. Quando os surdos mostram que existe uma língua de outra modalidade, isso também questiona a definição do que é "deficiência". Pois o "deficiente" sempre foi visto como incapaz, como alguém que tem falta de alguma coisa.

Para entender o surdo enquanto sujeito no mundo, é preciso compreender que a língua de sinais permite ao surdo o mesmo que a língua oral permite ao ouvinte, sabendo que é, de fato, uma língua legítima. E é por meio dessa língua que os surdos têm acesso ao mundo como sujeitos que pensam, expressam, opinam, decidem, etc. Assim como a língua oral é essencial para um ouvinte desenvolver todas as suas faculdades mentais, intelectuais, psíquicas, afetivas e sociais, a língua de sinais também é essencial para o surdo para que ele também desenvolva tudo isso. Porque o mais importante não é a modalidade da língua que se aprende, mas é o aprendizado dela.


Entenda a importância do aprendizado da Libras para ouvintes clicando aqui.

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