Por que devo aprender Libras?

03/03/2017

Saber a língua de sinais do seu país é muito mais do que um plus na vida de alguém: constitui o que chamamos de "cidadania"

A falsa restrição linguística

É muito comum grande parte das pessoas, quando questionada sobre a língua de sinais, responder: "eu não sei porque não trabalho com isso" ou "eu não aprendi porque não tenho muito interesse na área", entre outras respostas que desviam a essência da pergunta.

Saber a língua de sinais do seu país, na verdade, não tem a ver com a área em que você trabalha. O único caso no qual isso acontece é quando se é professor de libras ou tradutor/intérprete. Nessas circunstâncias, é claro que ser fluente e estudar a língua é fundamental. Mas o dever de saber libras também existe para quem não se enquadra nessas profissões.

Ou seja, quem atua como profissional tendo a língua de sinais como objeto de trabalho/estudo, é fácil entender o porque devem saber a libras. Mas e para quem não trabalha com isso?

Deveres iguais, objetivos diferentes

A razão pela qual devemos aprender libras não é o simples fato de trabalharmos com isso ou não. Afinal, isso é muito pouco, pois se assim o fosse, os únicos a poder se comunicar com os surdos seriam os profissionais da área. E são as diferentes profissões que fazem do mundo como ele é. Aprender a língua de sinais do nosso país é um dos elementos que forma a nossa cidadania. Vejamos a definição de "cidadania" a partir do Dicionário Caldas Aulete:

Por essas definições, podemos ver que o conceito de "cidadania" está fortemente ligado à coletividade, sempre trazendo a ideia de "conjunto" de pessoas. Se refletirmos sobre as definições 4, 1 e 3, respectivamente, chegamos a seguinte conclusão: aprender libras é a prática do "exercício consciente da condição de cidadão (...) em defesa da ampliação e fortalecimento da cidadania", "com seus direitos e obrigações", "para o estabelecimento e garantia desses direitos".

Ou seja, o aprendizado da libras por todos os cidadãos não só contribui para o crescimento e a concretização da cidadania - sabendo que cidadania traz direitos e deveres ao cidadão -, mas também garante esses direitos aos surdos.

Entendendo a realidade através da esfera jurídica

E quais direitos são esses? A Constituição de 1988 nos responde, no Art. 5º. Vejamos alguns:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

(...)

XXII - é garantido o direito de propriedade;

(...)

XXX - é garantido o direito de herança;

Esses são exemplos dos direitos comuns a todos nós. Mas no caso dos surdos, como isso se aplica? A começar pelo termo XII, já podemos ver que temos o direito de exercer alguma profissão, porém, desde que estejamos qualificados para isso. Portanto, também devem existir processos que qualificam os surdos para que se tornem profissionais: o que significa uma demanda de conhecedores da língua de sinais. E não só para a existência de cursos profissionalizantes ou de nível superior para alunos surdos, mas também (e principalmente) para o ensino precedente a essa fase: o ensino básico (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio).

Já no termo XXII, como o surdo pode usufruir do seu direito de propriedade se, por exemplo, o corretor de imóveis não consegue se comunicar com ele? Esse é um caso que nos mostra a importância de saber a língua de sinais sem pertencer à área de educação/ensino, isto é, o uso desse aprendizado não se restringe somente a profissionais específicos.

Um outro exemplo disso é o termo XXX, sobre o direito de herança. Aqui já entramos na esfera jurídica, um grande e importantíssimo espaço onde a comunicação deve ser polida com bastante cuidado. Como um surdo poderá consultar um advogado se este não o pode atendê-lo? Mais uma vez, estamos falando de outras áreas de atuação humana que não têm a língua de sinais como objeto de trabalho, mas sim, como mecanismo.

O Art. 6º também traz outros direitos:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Fazendo breves ilustrações, esse outro trecho da Constituição reafirma as reflexões anteriores. Equipe médica, nutricionistas, cobradores de ônibus, recepcionistas de hotel, funcionários públicos, policiais, entre todas as outras profissões, entre todos os outros profissionais, quando sabem a língua de sinais do seu país, contruibuem para a garantia dos direitos dos surdos fortalecendo, assim, a cidadania.

O bem mútuo

Mas não é só isso. Não aprendemos a língua de sinais apenas para os surdos. Nós também a aprendemos para nós mesmos, como acontece com as outras línguas que estudamos. Você sabe quão bem pode nos fazer aprender um novo idioma? Confira os 9 benefícios de um cérebro bilíngue. (Isso vale para você também que já tem uma segunda língua!)

Sinal de Vida. 2016. Licenciado por Creative Commons. Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora