Roda o VT!
Switched at Birth
Uma série muito além da ficção
Trailer da série Switched at Birth, produzida pelo canal ABC Family (atual Freeform)
Após descobrirem que foram "trocadas na maternidade", Bay e Daphne vivem drásticas mudanças que afetam o relacionamento com suas respectivas famílias. Seus pais decidem morar juntos para que todos possam se conhecer melhor.
Mas o que a mãe de criação de Daphne (Regina) não esperava era a reação dos pais biológicos (Kathryn e John) quando ficaram sabendo que Daphne era surda. Regina (mãe de criação) explica que, quando criança, Daphne contraiu meningite, e por isso, a surdez. Já os pais biológicos, Kathryn e John, depois de ficar inconformados ao saber que Daphne estuda em uma escola de surdos, decidem levá-la para conhecer onde Bay estuda, uma escola regular.
A trama não gira exclusivamente em torno da surdez de Daphne, mas é um ponto principal quando surgem os conflitos entre as famílias. Logo no primeiro episódio, John (pai biológico) questiona Regina (mãe de criação):
Tradução
John: E ela vai para a escola e tudo?
Regina: Sim. São só os ouvidos dela que não funcionam, não o cérebro.
Dessa conversa, percebe-se, de saída, duas coisas: o desconhecimento de John em relação à surdez, e a indignação de Regina quando questionada sobre a vida de Daphne. Duas coisas que, em geral, estão muito próximas, mas nunca juntas.
A pergunta de John é muito relevante, no sentido em que se interessa em saber de que jeito Daphne vive sendo surda. Sua fala "...ela vai para a escola, e tudo?" perturba Regina a ponto de ter que explicar algo óbvio (será mesmo?): "são só os ouvidos dela que não funcionam, não o cérebro". Quando John diz "e tudo", ele quer saber se Daphne tem um estilo de vida como o de qualquer outra menina na idade dela, pois para ele, o mundo surdo é novidade.
Outro recorte interessante é quando a família biológica de Daphne conhece Emmett, seu melhor amigo, que também é surdo. Ele oferece carona para ela todos os dias para irem à escola, com um detalhe... de moto. Dessa vez, a reação ficou por conta de Kathryn (mãe biológica de Daphne) que, mesmo sem jeito, tentou disfarçar seu espanto:
Tradução
Kathryn: Hm, eu não sabia que você poderia ser tão jovem e ainda assim dirigir uma moto.
E mais uma vez, vem Regina (uma das minhas personagens favoritas, diga-se de passagem), "normalizando" a situação, e diz:
(OBS.: Ela só diz essa fala apenas uma vez. Na primeira tela, a legenda saiu antes que a fala. Mas a fala e a sinalização acontecem simultanemente).
Tradução
Regina: Você só precisa ter dezesseis anos.
A série mostra muito bem a dificuldade de compreensão que acontece quando a funcionalidade da vida de um surdo é posta em jogo. Apesar de ser ficção, esse tipo de diálogo, além de inúmeros outros, é muito comum na vida real.
O que mais me fascina nessa série é ver as diferentes perspectivas que cada família tem em relação à Daphne. Fico pensando se elas não tivessem sido "trocadas na maternidade", e Daphne fosse surda independentemente de contrair meningite ou não. Como sua família biológica reagiria? Como seria a criação dessa menina? Será que jamais iria conhecer a língua de sinais?
Enfim, são questões que me pergunto, tendo em vista que Regina, com toda sua dificuldade financeira, proporcionou à Daphne a melhor educação que ela poderia ter dado: o acesso à língua de sinais. Daphne se comunica tanto com surdos, através da ASL, quanto com ouvintes, fazendo leitura labial e oralizando. Já os pais biológicos, John e Kathryn, com muito mais potencial financeiro, provavelmente, não teriam educado Daphne dessa forma.
Essa é uma daquelas histórias que nos trazem um conforto quando pensamos no "por quê?" e no "e se?". Quando refletimos sobre a realidade inversa e voltamos para a realidade presente, vem aquele alívio, os questionamentos evaporam, deixando a certeza de que o melhor que poderia ter acontecido... aconteceu.
3 FATOS SOBRE OS BASTIDORES DE SWITCHED AT BIRTH
- Os atores que interpretam Daphne e Emmett, Katie Leclerc e Sean Berdy, respectivamente, são surdos de verdade! Porém, enquanto Sean tem a ASL como primeira língua, Katie a aprendeu como língua estrangeira a partir do colegial.
- Aos 20 anos, a atriz Katie Leclerc foi diagnosticada com Síndrome de Meniere, um distúrbio degenerativo interno no ouvido que causa perda auditiva. Como Katie aprendeu a língua de sinais desde adolescente, quando surgiu o papel para interpretar Daphne, ela seria perfeita para isso!
- A escola de surdos mostrada na série Carlton School for the Deaf não é real. Mas escolas para surdos nos Estados Unidos englobam uma realidade muito mais comum do que a gente imagina. Praticamente, há escolas para surdos em quase todos os estados. No total, são mais de 90 escolas espalhadas pelo país.